Como países em desenvolvimento podem liderar a próxima revolução tecnológica

*Por Nelson Leoni, CEO da WideLabs
Enquanto a Inteligência Artificial (IA) remodela economias ao redor do mundo, ela apresenta uma oportunidade única para os países em desenvolvimento superarem desafios históricos e impulsionarem um desenvolvimento sustentável e inovador.

Do setor da saúde à educação, passando pela segurança alimentar e pela infraestrutura urbana, a IA pode remodelar a maneira como as nações em crescimento impulsionam seu desenvolvimento econômico e social. Destaca-se que, particularmente em países em desenvolvimento e no setor público, há um grande potencial para gerar resultados expressivos em pouco tempo. A aplicação de serviços públicos com IA pode gerar mais eficiência, reduzir custos e proporcionar um maior impacto para a população.

Na América Latina, onde estamos localizados, a revolução tecnológica também está ganhando força com a adoção massiva da IA Generativa (GenAI). O Brasil, por exemplo, abriga a maior comunidade de desenvolvedores da região e a quarta maior do mundo no GitHub, demonstrando seu potencial para liderar essa transformação.

Além disso, estima-se que até 2027, mais de um quarto dos gastos principais de TI das 5 mil principais empresas da América Latina será alocado em iniciativas de IA, impulsionando a inovação em produtos e processos. Esse dado reforça o papel da região como protagonista do Sul Global em avanços tecnológicos.

Fiquei feliz, inclusive, ao me deparar com esses dados porque algo muito discutido em relação à adoção de IA é a falta de profissionais qualificados e, principalmente, o desenvolvimento de ensino para eles, e ver que este cenário está melhorando relativamente é inspirador.

Falando sobre potenciais, a IA pode reduzir desigualdades estruturais ao automatizar processos e ampliar o acesso a serviços essenciais.

Na saúde, por exemplo, algoritmos avançados permitem diagnósticos mais rápidos e precisos, democratizando a medicina de qualidade mesmo em regiões remotas. O uso de IA em telemedicina e dispositivos portáteis com sensores inteligentes viabiliza a oferta de serviços médicos em comunidades que, historicamente, sofrem com a escassez de profissionais da área.

Na educação, a IA facilita a personalização do ensino, adaptando conteúdos conforme as necessidades individuais dos alunos. Plataformas de aprendizado com IA podem identificar lacunas no conhecimento dos estudantes e oferecer materiais complementares para garantir um ensino mais eficiente. Isso é crucial para países em desenvolvimento, onde a infraestrutura educacional muitas vezes é limitada.

IA pode ajudar a reduzir desigualdades ao ampliar o acesso a serviços essenciais (Imagem: Have a nice day Photo/Shutterstock)

Para alcançar esses benefícios, é fundamental que as instituições públicas colaborem com a iniciativa privada. A implementação de soluções baseadas em IA também pode transformar os setores produtivos, aumentando a eficiência e reduzindo custos operacionais.

No setor agrícola, por exemplo, sistemas baseados em IA analisam dados climáticos, monitoram o solo e otimizam o uso de recursos, permitindo um aumento significativo na produtividade e contribuindo para a segurança alimentar. Outro impacto importante está no setor financeiro.

Ferramentas de IA ajudam a democratizar o acesso ao crédito e serviços bancários, beneficiando populações sem acesso tradicional a bancos. Modelos de análise preditiva avaliam a capacidade de pagamento de indivíduos e pequenas empresas, permitindo que instituições financeiras ofereçam crédito de forma mais segura e acessível.

O crescimento acelerado das cidades em países em desenvolvimento ainda impõe desafios urbanos complexos, como mobilidade, saneamento e segurança.

A IA pode contribuir para a gestão mais eficiente das cidades, com soluções que vão desde a otimização do trânsito até a previsão de manutenção de infraestruturas críticas, como redes de abastecimento de água e energia. Sistemas inteligentes de trânsito, por exemplo, utilizam IA para prever congestionamentos e otimizar semáforos, reduzindo o tempo de deslocamento e minimizando a poluição urbana.

Câmeras com análise de imagem impulsionada por IA também ajudam a melhorar a segurança pública, identificando padrões suspeitos e auxiliando forças policiais na prevenção de crimes.

A inteligência das cidades está migrando do asfalto para os algoritmos (Imagem: AlinStock/Shutterstock)

Diante da crescente demanda por energia para soluções de IA generativa, é importante destacar o potencial energético do Brasil, que pode desempenhar um papel crucial neste contexto. No entanto, apesar dos avanços, a adoção da IA em países em desenvolvimento ainda enfrenta diversos desafios.

A infraestrutura tecnológica insuficiente continua sendo um obstáculo em muitas regiões, limitando a capacidade de processamento de dados e armazenamento necessários para sistemas de IA robustos. Além disso, surgem preocupações relacionadas à ética e privacidade, especialmente no que diz respeito ao uso de dados sensíveis e à segurança digital das populações vulneráveis.

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Para superar esses desafios e garantir que a IA seja utilizada de maneira justa e benéfica para toda a sociedade, investimentos em capacitação profissional e políticas regulatórias adequadas são fundamentais.

Parcerias entre governos, setor privado e instituições acadêmicas podem acelerar a inclusão digital e garantir que as vantagens da IA cheguem ao maior número possível de pessoas. Assim, o Brasil pode aproveitar seu potencial energético e tecnológico para liderar a transformação digital de forma responsável e inclusiva.

Com potencial energético e tecnológico, o Brasil pode liderar uma adoção de IA (Imagem: Zapp2Photo/Shutterstock)

Infraestrutura e investimento

A soberania em Inteligência Artificial pode ser um diferencial estratégico para países em desenvolvimento, permitindo que criem suas próprias soluções tecnológicas alinhadas às suas necessidades específicas.

O estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) alerta que os investimentos globais em infraestrutura de IA, que ultrapassam US$ 300 bilhões anuais, estão concentrados majoritariamente em nações ricas, ampliando a desigualdade tecnológica.

No entanto, ao investir na capacitação de talentos locais, no desenvolvimento de modelos próprios e em infraestrutura computacional acessível, países da América Latina, Ásia e África podem reduzir essa lacuna.

Isso não apenas fortalece a competitividade global dessas economias, mas também garante que os benefícios da IA sejam distribuídos de forma mais equitativa, estimulando a geração de empregos qualificados e promovendo inovação a partir das demandas locais. Dessa forma, a IA pode ser uma ferramenta de autonomia e crescimento, e não um vetor de desigualdade.

A Inteligência Artificial não é apenas uma revolução tecnológica – ela é uma oportunidade histórica para os países em desenvolvimento reescreverem seu futuro. A América Latina está pronta para assumir a liderança nessa transformação, mas a questão crucial é: como podemos garantir que todos, especialmente os mais vulneráveis, sejam parte dessa revolução?

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