Na noite de sábado (17), moradores de várias regiões dos EUA observaram uma faixa brilhante e esbranquiçada cruzando o céu, visível até o sul do Novo México. O fenômeno chamou atenção por parecer uma aurora, mas tinha uma explicação bem diferente.
Como aquela foi uma noite para a atividade auroral, já que o campo magnético da Terra havia sido atingido por um jato de partículas solares dias antes, a suspeita inicial era de que se tratasse de um STEVE (sigla em inglês para “forte aumento da velocidade térmica”) – um tipo de luz atmosférica parecida com auroras, causada por partículas carregadas que viajam pela camada superior da atmosfera, chamada ionosfera.
Enquanto as auroras tendem a cintilar em amplas faixas de luz verde, azul ou avermelhada, dependendo de sua altitude, o STEVE normalmente aparece como uma única fita de luz lilás e branca que se estende por centenas de quilômetros. Às vezes, essa fita luminosa é acompanhada por uma linha verde de luzes picotadas, semelhante a uma cerca.
Combustível liberado por foguete provocou o feixe de luz no céu
No entanto, segundo o astrônomo Jonathan McDowell postou no X (antigo Twitter), a faixa no céu era, na verdade, o rastro de combustível despejado pelo foguete chinês Zhuque-2E Y2, da empresa LandSpace, lançado à 1h12 (pelo horário de Brasília) e levou seis satélites à órbita da Terra.
TLEs confirm the Zhuque-2 upper stage passed over the US Four Corners area at 0525 UTC May 17 and is the source of the unusual luminous cloud seen by many observers.
— Jonathan McDowell (@planet4589) May 17, 2025
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Cerca de uma hora após o lançamento, o combustível foi liberado na atmosfera, a 250 km de altitude, criando o brilho visível em várias partes do país.
O combustível usado foi o chamado methalox, uma mistura de metano e oxigênio líquido. Esse tipo de propelente tem ganhado espaço na indústria espacial por ser mais barato, limpo e viável para missões futuras a Marte.
“Fuel dump from Zhuque-2 upper stage, at about 250 km altitude” said @planet4589 https://t.co/xihoyJMzoQ pic.twitter.com/yLdPRfxJCR
— Tom Bike (@tom_bike) May 19, 2025
O brilho causado por esse tipo de combustível pode ocorrer de formas diferentes. Uma delas é a reflexão da luz solar por cristais de gelo na atmosfera, mas isso só acontece perto do anoitecer. Altas horas da noite, como nesse caso, a origem é química.
This plume was not an aurora, and it was not STEVE. We believe it is related to a rocket launch in China. About an hour before the plume appeared (5:39 UTC), Chinese launch startup Landspace launched the ZhuQue-2E rocket from the Jiuquan Satellite Launch Center (4:12 UTC). It… pic.twitter.com/FEcwhfxbZT
— Oppenheimer Ranch Project (@Diamondthedave) May 17, 2025
Na ionosfera, os gases liberados, como metano, reagem com partículas carregadas, produzindo luz de maneira semelhante à quimioluminescência – o mesmo tipo de reação que faz os bastões de luz brilharem.
Esse fenômeno raro ainda é pouco conhecido do público. Mas com o avanço dos foguetes movidos a methalox, é possível que novas “listras brilhantes” apareçam nos céus. Agora, se você estiver para aqueles lados e vir uma, já sabe que pode ser combustível de foguete — e não uma aurora boreal.
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