Evento espacial ligado à Sodoma e Gomorra foi desmascarado; entenda

Um artigo científico publicado em 2021 na revista Scientific Reports, que atribuía a destruição da antiga cidade de Tall el-Hammam, por volta de 1.600 a.C., a uma explosão aérea e sugeria que o episódio inspirou as narrativas de Sodoma e Gomorra, foi totalmente retratado pela editora. A decisão ocorre após anos de críticas sobre a metodologia, dados e motivações dos autores.

O estudo original defendia que um objeto espacial de dimensões semelhantes ao que atingiu Tunguska (Sibéria), em 1908, teria explodido sobre Tall el-Hammam, gerando “temperaturas muito altas” e traços de quartzo chocado.

Segundo os autores, para os habitantes da Idade do Bronze, tal evento teria sido visto como um ato de Deus e um aviso sobre os perigos do pecado, abrindo caminho para a formação dos mitos bíblicos.

Sodoma e Gomorra em chamas por Jacob de Wet II, 1680 (Imagem: Wikimedia)

Entretanto, logo após a publicação, diversos especialistas apontaram inconsistências. O professor Mark Boslough, da Universidade do Novo México (EUA) e autoridade em explosões atmosféricas, afirmou, em rede social, que o artigo deturpou seus próprios modelos, citando-os em apoio a conclusões que, na verdade, os contradiziam.

Boslough chegou a chamar atenção para a rápida “ressurreição” do trabalho em outra publicação de menor prestígio, Airbursts and Cratering Impacts, que desde a sua criação, há dois anos, publicou apenas 14 artigos, quase todos dos mesmos autores.

Arqueólogos destacaram que os supostos danos “únicos” em Tall el-Hammam são, na verdade, comuns em sítios construídos com materiais semelhantes, refutando a afirmação de que a cidade teria sido destruída por um evento extraordinário. Além disso, a avaliação de especialistas de áreas alheias ao estudo levantou dúvidas sobre a validade de muitos dos métodos empregados.

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A investigação também revelou que parte do financiamento do projeto teria sido fornecida por grupos interessados em comprovar a veracidade de narrativas bíblicas, o que suscitou questionamentos sobre possíveis conflitos de interesse.

A bioquímica e detetive de ciência, Dra. Elisabeth Bik, identificou repetições suspeitas em imagens do artigo, sugerindo manipulação de dados visuais — prática considerada mais grave que simples erros de interpretação.

Questionamentos adicionais vieram à tona quando se descobriu que o autor correspondente, usando outro nome, já havia sido condenado por cobrar por estudos de água sem autorização legal para realizá-los. Embora alguns coautores tenham currículo respeitável, muitos atuam em campos apenas tangencialmente relacionados ao tema.

Farsa sobre Sodoma e Gomorra foi retratada

  • Em 2023, o site Retraction Watch informou que o artigo estava sob investigação por questionamentos sobre seus dados e conclusões. Agora, após quase quatro anos de polêmica, a revista decidiu pela retratação completa;
  • Esse episódio ressalta a frequência com que trabalhos profundamente falhos chegam a publicações de alto impacto, apesar dos rigorosos processos de revisão;
  • O caso de Tall el-Hammam ganhou notoriedade incomum, gerando debates em múltiplas áreas científicas;
  • Além das repercussões diretas, a retratação lança dúvidas sobre outra pesquisa dos mesmos autores (como lembra o IFLScience): o estudo de 2007, publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences, que associa um suposto impacto cometário ao evento Younger Dryas, um período de abrupta queda de temperatura há cerca de 12,9 mil anos;
  • Se mesmo o caso de Tall el-Hammam mostrou-se frágil, a comunidade científica deve reavaliar, com cautela, trabalhos que atribuem fenômenos climáticos e arqueológicos a explosões aéreas ou impactos cósmicos.
Arte do filme "God's Destruction of Sodom and Gomorrah"
Arte do filme “God’s Destruction of Sodom and Gomorrah” ((Imagem: Eastern Lightning)

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