Pesquisadores confirmaram a autoria de um desenho da retomada do Recife pelas tropas de Portugal. A obra ilustra 16 dos 60 navios da Companhia Geral de Comércio, criada pelo governo português, chegando pela costa para enfrentar os colonizadores da Holanda, que dominavam parte do nordeste brasileiro à época.
No centro da obra, fortalezas dos holandeses se preparam para proteger a Cidade Maurícia, região antiga na Ilha de Antônio Vaz, onde atualmente está Recife, em Fortaleza. Ao fundo, trincheiras e acampamentos das tropas portuguesas cercam o local por terra, encurralando os adversários.
O desenho foi adquirido em 2023 pelo Instituto Flávia Abubakir e tem sido objeto de pesquisa dos historiadores Bruno Miranda, de Pernambuco, e Pablo Magalhães, da Bahia. Essa dupla pesquisou em arquivos nacionais e internacionais para chegar a conclusão: a ilustração é obra de João Teixeira Albernaz II.
“É uma imagem procurada por historiadores desde a fundação da historiografia brasileira, um desenho único, na perspectiva zenital, ou seja, a visão do pássaro, e que mostra o cerco final de Recife”, explicou Pablo Magalhães em uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo.
A família Albernaz foi uma dinastia de grandes cartógrafos portugueses que se destacou do século XVI até ao fim do século XVIII. O avô, João Teixeira Albernaz (1575-1662), ficou conhecido pela extensa obra de registros e quatro atlas, que incluem mapas do Brasil e do continente africano.
A clareza visual do documento se destaca. O desenho tem anotações que funcionam como legendas informativas; detalhes e qualidade símbolos da família Albernaz. “É muito didático, como se fosse uma história em quadrinhos”, definiu o pesquisador.
Pesquisadores viajaram o mundo
Os historiadores pesquisaram em arquivos de diversos países, passando por Brasil, Espanha, Estados Unidos, França, Inglaterra e Portugal. A dupla começou pela busca de outras obras realizadas por engenheiros holandeses, até encontrarem documentos com caligrafia idêntica e similaridades às de Albernaz II.
“Sabíamos que uma imagem voltada aos holandeses vinha sendo procurada desde o século XIX. Começamos a pesquisa pelos engenheiros militares que estiveram no cerco do Recife. Descobrimos muitas coisas, mas ainda não havíamos achado o nosso cara. Foi aí que percebemos que a caligrafia era idêntica à de Albernaz II e que o mapa reproduzia um erro cartografado por seu avô”, afirmou o historiador para a Folha de São Paulo.
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Os dois pesquisadores são especialistas em Brasil holandês, período em que colonizadores da Holanda dominaram regiões do nordeste brasileiro, principalmente o atual estado de Pernambuco. Essa ocupação durou de 1630 até 1654, quando foram vencidos e expulsos por tropas portuguesas que os cercaram por terra e mar.
A versão digitalizada do mapa está disponível no site do Instituto Flávia Abubakir. Agora, Bruno Miranda e Pablo Magalhães preparam um estudo sobre a obra para divulgar a descoberta em periódicos científicos.
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