A chegada dos humanos ao continente americano é uma questão que intriga a comunidade científica há décadas, mas ainda não tem respostas. Alguns artefatos de 13 mil anos atrás e vestígios eram o que arqueólogos tinham para trabalhar. Porém, um conjunto de pegadas na América do Norte se revelou mais antigo do que pensávamos.
Uma nova pesquisa publicada na Science Advances demonstrou que algumas dessas pegadas, encontradas no Novo México, Estados Unidos, têm mais de 20 mil anos. Os rastros foram encontrados no Parque Nacional de White Sands, uma antiga camada de sedimentos que um dia já foi um rio. Após as águas secaram, a erosão do vento acumulou gesso nas dunas que definem a área hoje em dia.
A busca pela idade desses vestígios começou em 2021, quando pesquisadores do Reino Unido dataram sementes e polens desse mesmo local e descobriram que elas tinham entre 23 e 21 mil anos.
Porém, outros cientistas contestaram a descoberta. A crítica dizia que esses restos de plantas estavam absorvendo água antiga, anterior à camada de sedimentos, e seriam mais recentes do que se pensava.
Nova datação confirma idade
Em busca de uma nova datação, o professor Vance Holliday, autor principal da pesquisa, foi para White Sands com sua equipe em 2022. Ele teve uma surpresa ao descobrir que alguns dos leitos com pegadas humanas são sedimentos vermelhos, e era possível fazer os cálculos para estimar a idade desses rastros.
Esse estrato avermelhado está preso entre as camadas branca, verde e preta, feitas de gesso, argilas e lama. Sua composição é de material trazido de montanhas próximas pelo vento.
A pesquisa, concluída em 2025, revelou: o sedimento vermelho tem entre 22.400 e 20.700 anos, o que confirma as estimativas anteriores. O estudo contou com a colaboração de dois grupos de cientistas e três laboratórios diferentes para fazer a datação com radiocarbono de 55 amostras. Todos chegaram a conclusões parecidas.
“É um registro notavelmente consistente. Chega-se a um ponto em que é realmente difícil explicar tudo isso. Como digo no artigo, seria uma serendipidade (o ato de descobrir coisas agradáveis por acaso) extrema ter todas essas datas dando a você uma imagem consistente que está errada”, disse Holliday em um comunicado.

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O povo mais antigo da América?
Com a confirmação da idade dos rastros, o desafio atual dos pesquisadores é explicar a existência de humanos nas Américas antes da Cultura Clóvis — o conjunto de artefatos que, até então, se acreditava ser dos primeiros hominídeos a chegarem ao continente americano. Segundo Holliday, as pegadas são 10 mil anos mais velhas do que os traços de Clóvis.
“É uma sensação estranha quando você sai e olha as pegadas e as vê pessoalmente. Você percebe que elas basicamente contradizem tudo o que lhe ensinaram sobre o povoamento da América do Norte”, disse Jason Windingstad, coautor da pesquisa.
Os pesquisadores especulam que esses hominídeos teriam sido extintos após chegaram à América do Norte. Assim, seria somente na cultura Clóvis que a adaptação dos humanos ao ambiente americano teria ocorrido.
Porém, mais pesquisas são necessárias para entender quem eram esses misteriosos hominídeos ancestrais. Por enquanto, após conseguir uma resposta, os pesquisadores terão de lidar com novas perguntas.
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