Eles são invisíveis a olho nu, mas carregam pistas valiosas sobre grandes transformações no planeta. Os grãos de pólen fossilizado vão muito além das alergias sazonais: funcionam como verdadeiras cápsulas do tempo biológicas, registrando detalhes sobre o clima, a vegetação e até a presença humana em diferentes períodos da história da Terra.
Esses microfósseis conseguem atravessar milênios graças à sua parede externa resistente, que permite a conservação mesmo após a extinção da planta de origem. Ao se depositarem no fundo de lagos, rios ou oceanos, os grãos acumulam informações que hoje ajudam pesquisadores a entender eventos como o impacto do asteroide que extinguiu os dinossauros ou o colapso da civilização maia.
Asteroide e extinção dos dinossauros
Em sedimentos encontrados no sudeste do estado americano do Missouri, cientistas identificaram pólen do fim do Cretáceo e do início do Paleoceno, preservado entre fósseis marinhos e fragmentos de rochas. O material foi depositado após um maremoto causado pelo impacto do asteroide que atingiu a península de Yucatán há cerca de 66 milhões de anos.
O registro mostra um colapso imediato na vegetação da região. “Alguns tipos de pólen de floresta desapareceram após o impacto, indicando uma mudança nos ecossistemas locais, que só começaram a se recuperar centenas ou milhares de anos depois”, disseram os pesquisadores Francisca Oboh Ikuenobe e Linus Victor Anyanna em artigo publicado no The Conversation.
Subida do mar no Golfo do México
Outro caso em que o pólen ajudou a contar uma história geológica está nos estados do Mississippi e do Alabama, nos EUA. Durante o Oligoceno Inferior, entre 33,9 e 28 milhões de anos atrás, o nível do mar subiu e inundou grandes áreas de floresta de coníferas.
Essa transição foi identificada a partir do pólen de árvores do tipo sequoia, que dominavam as planícies costeiras. Ao comparar a presença desses grãos com microfósseis marinhos, os cientistas puderam mapear até onde o oceano avançou sobre o continente.
De florestas tropicais a lagos salinos na Austrália
Na Austrália Ocidental, sedimentos de lagos secos revelam uma transformação drástica da paisagem. Durante o Eoceno, há mais de 33 milhões de anos, a região abrigava florestas tropicais e lagos de água doce. Mas o avanço do clima árido, impulsionado pelo deslocamento da placa tectônica australiana, alterou completamente a vegetação.
Nos níveis mais recentes dos sedimentos, os pesquisadores encontraram pólen de plantas tolerantes à seca e ao sal, além de algas como a Dunaliella, que vivem em águas extremamente salinas. A presença desses elementos indica que os lagos se tornaram altamente salinos à medida que o ambiente se tornava mais seco.
Civilização maia e transformação ambiental
Mais próximo dos trópicos, o Lago Izabal, na Guatemala, fornece evidências de como os maias influenciaram seu ambiente ao longo dos últimos 1.300 anos. Entre 825 e 900 d.C., houve um aumento no pólen de milho e ervas oportunistas, enquanto o pólen de árvores caiu drasticamente — sinal claro de desmatamento em larga escala.
Logo após esse período, registros históricos mostram o colapso de centros políticos maias. “A floresta só começou a se recuperar quando a pressão populacional diminuiu”, destacaram os autores. Mesmo durante a chamada Pequena Era do Gelo, entre os séculos 14 e 19, o aumento no pólen de árvores tropicais resistentes indica uma recuperação ecológica.
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O que o pólen de hoje pode revelar no futuro
A análise do pólen atual também revela tendências preocupantes. Com o aquecimento global, as estações de pólen estão começando mais cedo e durando mais, especialmente em regiões temperadas. O aumento da emissão de dióxido de carbono intensifica esse fenômeno, com impactos diretos na saúde humana.

Esses grãos liberados hoje pelas plantas estão se acumulando em lagos e rios e poderão, no futuro, contar aos cientistas como as atividades humanas transformaram o planeta em pleno século XXI.
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