Como um meteoro gigante dizimou os dinossauros?

Todas as sextas-feiras, ao vivo, a partir das 21h (pelo horário de Brasília), vai ao ar o Programa Olhar Espacial, no canal do Olhar Digital no YouTube. O episódio da última sexta-feira (6) (que você confere aqui) foi sobre a extinção dos dinossauros e como um asteroide mudou os rumos da história natural da Terra.

O professor e paleontólogo Marcelo Adorna Fernandes explicou como ocorreu o impacto do meteoro de Chicxulub e quais foram os efeitos imediatos e a longo prazo que causaram a extinção em massa. Fernandes é doutor em Geologia/Paleontologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), professor associado nível IV no Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da UFSCar e coordenador do Grupo de Pesquisa do CNPq Paleoecologia e Paleoicnologia. 

O Programa Olhar Espacial recebeu o paleontólogo Marcelo Adorna Fernandes para um bate-papo sobre o asteroide que matou os dinossauros. (Imagem: Olhar Digital)

“Florestas fritaram”, disse pesquisador

Há 66 milhões de anos, uma rocha de 10 a 15 quilômetros – da dimensão do Monte Everest – atingiu a  península de Yucatán, no golfo do México, e causou impactos irreversíveis na Terra. A força do choque foi tamanha que esse objeto se desintegrou e levantou uma camada de poeira que cobriu o planeta.

A energia liberada no evento foi equivalente à de 10 bilhões de bombas como a de Hiroshima e o calor incinerou imediatamente a vegetação em volta. “A temperatura foi equivalente à superfície do Sol. Fritou toda floresta que existia ao redor, derreteu tudo”, explicou Fernandes. 

Rochas abaixo do local de impacto foram vaporizadas. Algumas em maior profundidade, chegaram a 330°C, e tem cicatrizes do evento que permanecem até hoje.

Vegetação na área de impacto pulverizou. (Imagem: Christian Roberts-Olsen/Shutterstock)

Tsunamis viraram o mundo 

Nos 2,5 minutos seguintes, uma onda de até 4,5 quilômetros de altura se alastrou por um raio de mais de 50 km, destruindo tudo em seu caminho. Após dez minutos, ela diminuiu para 1,5 km, mas continuou a se deslocar.

Em 48 horas, um tsunami de cerca de 10 metros viajou numa velocidade de 3,6 km por hora e atingiu a costa do Atlântico Norte e porção do sul do Pacífico. Pesquisadores da Universidade de Michigan, em um estudo de 2022, constataram que essa onda pode ter se espalhado por um raio de até 12 mil quilômetros, dando praticamente a volta ao mundo.

Simulação do tsunami gerado pelo impacto

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Choveu ácido após impacto

Do outro lado do planeta, as ondas de choque fizeram com que todos os vulcões do Planalto de Deccan – atual Índia – entrassem em erupção. O local já tinha uma atividade vulcânica intensa, mas o impacto a levou ao ponto de deixar uma camada de basalto – magma solidificado – de dois quilômetros de espessura, que abrange 500 mil km².

“Devido ao vulcanismo, milhões de toneladas de enxofre foram lançadas na atmosfera. Isso reagiu e se tornou ácido sulfúrico, que logo precipitou em chuva ácida por cinco até dez anos”, disse Fernandes

A constante precipitação de compostos ácidos levou a uma acidificação dos oceanos. Segundo o paleontólogo, 80% da vida marinha desapareceu por causa disso.

Inverno intenso tomou a Terra

Os gases se juntaram aos mais de 80 mil quilômetros cúbicos de partículas jogadas no ar pelo impacto e criaram uma camada que bloqueou a passagem de luz pela atmosfera. Isso impediu as plantas de obter iluminação solar o suficiente para fazer fotossíntese e sobreviver. Os animais herbívoros, comedores de vegetação, ficaram sem alimentos e morreram. 

Como consequência, os carnívoros também tiveram escassez de comida e não puderam sobreviver. Segundo o National History Musem, todos os animais terrestres com mais de 25 quilos foram extintos.

Após os primeiros momentos de calor extremo, o planeta passou por um momento de inverno devido à pouca luz que atravessava a atmosfera. “A temperatura global pode ter se elevado em até mais de 4 °C e depois caiu, um efeito inverso causando um inverno de impacto”, disse Fernandes. 

Segundo um estudo publicado na Nature Geoscience, as temperaturas médias da Terra despencaram em  até 15 °C. “Quase tivemos uma mini era do gelo naquele período devido ao impacto, que levantou poeira e gases, mudando o clima do planeta”, comentou o professor.

No fim, o impacto do asteroide resulto na extinção de 75% da vida na Terra. E hoje, na região do evento há uma cratera de 180 quilômetros de diâmetro, resultado da magnitude do evento.

Grandes icebergs e montanhas na Antártica. Neve e gelo. Paisagem antártica. Geleiras.
A Terra se tornou um local hostil e gelado. (Imagem: Oleksandr Matsibura/Shutterstock)

Planeta se reinventou 

Foram necessários 15 anos para a poeira baixar e a vida voltar à atividade na Terra. As plantas sobreviventes permaneceram no solo em estado de dormência e, quando o planeta voltou à condições necessárias,  retornaram a povoar o mundo. As angiospermas, vegetais com flores e fruto, tomaram conta do globo – processo começado no Cretáceo (145 a 66 milhões de anos atrás). 

Segundo Fernandes, nem todos os dinossauros foram extintos, os aviários sobreviveram e seus descendentes são os pássaros. “A perna de uma galinha é a perna de um dinossauro. Tem escamas, unhas, os três dígitos na frente e um para trás”, comentou.

Com o retorno dos produtores, os herbívoros sobreviventes voltaram a habitar a Terra – principalmente pequenos mamíferos. E, no decorrer de 15 milhões de anos, esses minúsculos seres evoluíram e se adaptaram até que mamíferos do tamanho de rinocerontes começaram a andar pelo planeta.

“Encerra-se a Era Mesozoica, dos grandes répteis, para começar a dos mamíferos e das aves, em que nós existimos agora. Herdamos a Terra”, concluiu Fernandes.

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