Conheça a síndrome de pica, que causa desejo de comer objetos

A síndrome de pica é um transtorno alimentar incomum, mas que merece atenção. Ela se caracteriza pelo consumo persistente de substâncias que não são consideradas alimentos como terra, giz, papel, cabelo, sabão ou até objetos metálicos.

Apesar de soar estranho para quem nunca ouviu falar, esse comportamento é real, complexo e pode afetar seriamente a saúde física e mental de quem sofre com ele.

Embora seja mais comum em crianças pequenas, gestantes e pessoas com deficiência intelectual, o transtorno pode atingir qualquer faixa etária. A repetição desse padrão por pelo menos um mês já é suficiente para levantar suspeitas clínicas.

Por isso, conhecer as causas, os sintomas e os riscos da síndrome é fundamental para identificar o problema e buscar o tratamento adequado. Agora, você vai entender por que a síndrome de pica acontece, quais são seus impactos e como é possível lidar com essa condição de forma responsável e empática.

O que é a síndrome de pica?

Reconhecida pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a síndrome de pica envolve o impulso contínuo de ingerir itens que não possuem valor nutricional ou uso alimentar. O termo “pica” vem do latim e faz referência a um tipo de pássaro (a pega, ou “pica-pau”) conhecido por bicar de tudo. Essa analogia reflete bem o comportamento compulsivo de quem convive com o transtorno.

Menina com um garfo na boca. / Crédito: pch.vector (Freepik/reprodução)

O problema não se limita a um simples hábito ou curiosidade, especialmente em crianças. A diferença está na frequência, na duração e na intensidade do comportamento. Quando esse padrão persiste por semanas e começa a afetar a saúde ou o cotidiano da pessoa, é sinal de que há algo mais profundo acontecendo.

O que pode causar a síndrome de pica?

As causas da síndrome de pica ainda não são totalmente compreendidas, mas diversos estudos apontam para fatores combinados; biológicos, psicológicos e sociais. Uma das hipóteses mais comuns é a relação com deficiências nutricionais, especialmente de ferro e zinco. Nesses casos, o corpo pode estar tentando compensar a carência de minerais de forma desordenada.

A condição também é frequentemente observada em pessoas com transtornos do espectro autista, esquizofrenia, transtornos obsessivo-compulsivos (TOC) e deficiências intelectuais. Nesses contextos, a pica pode surgir como uma forma de lidar com estímulos sensoriais ou como resposta a estresse e ansiedade.

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Durante a gravidez, algumas mulheres relatam vontades incomuns de consumir itens como barro, gelo ou sabão. Esse tipo de comportamento pode estar ligado a alterações hormonais e às necessidades aumentadas de nutrientes.

Fatores ambientais também influenciam. Crianças que vivem em ambientes negligentes ou com baixa supervisão podem desenvolver comportamentos repetitivos como forma de autoestimulação ou tentativa de atenção. Em casos de pobreza extrema, a ingestão de objetos pode até estar relacionada à escassez de alimentos.

Pessoa mordendo uma barra de sabonete
(Imagem: Danilo Oliveira/ImageFX)

Como identificar os sintomas da síndrome de pica?

O principal sintoma da síndrome de pica é a ingestão frequente de itens não comestíveis. Isso pode incluir desde substâncias comuns como terra, areia e papel, até objetos mais perigosos, como pedaços de vidro, metal ou plástico. Em geral, a pessoa sente um impulso forte e repetido, que vai além da curiosidade ou brincadeira.

Esse comportamento pode vir acompanhado de sinais físicos, como dor abdominal, vômito, constipação ou diarreia, tudo depende do tipo de objeto ingerido. Em casos mais graves, é possível que ocorra obstrução intestinal, infecções por parasitas ou intoxicação, especialmente quando há ingestão de substâncias químicas ou contaminadas.

Outros sinais indiretos incluem problemas dentários, gengivites e até anemia persistente. Em crianças, atrasos no desenvolvimento cognitivo e na linguagem também podem estar associados ao transtorno. Quando há impacto significativo na rotina ou na saúde geral, é hora de buscar ajuda especializada.

ilustração de um intestino sendo desenhado por um médico
Ilustração de um intestino sendo desenhado por um médico (Reprodução: mi_viri/Shutterstock)

Quem está mais vulnerável à síndrome?

Embora qualquer pessoa possa desenvolver a síndrome de pica, existem grupos mais suscetíveis. Crianças entre 2 e 6 anos são naturalmente curiosas e exploram o mundo colocando objetos na boca. No entanto, quando isso se prolonga além da fase esperada de desenvolvimento, o comportamento merece atenção.

Grávidas também podem manifestar desejos por itens não alimentares, especialmente se estiverem com carências nutricionais. A condição costuma desaparecer após o parto, mas em alguns casos pode evoluir para um quadro mais persistente.

Outro grupo de risco inclui pessoas com deficiências intelectuais ou transtornos psiquiátricos. Nessas situações, o comportamento pode ter caráter compulsivo ou ritualístico, tornando o tratamento mais complexo. Indivíduos em contextos de vulnerabilidade social, negligência ou pobreza extrema também podem apresentar esse tipo de transtorno com mais frequência.

Quais são os riscos para a saúde?

Os perigos da síndrome de pica vão muito além da estranheza do comportamento. A ingestão de objetos não comestíveis pode causar problemas sérios, como intoxicações por metais pesados, perfurações no intestino, bloqueios intestinais e infecções. Em alguns casos, a condição pode até ser fatal se não for tratada a tempo.

Além dos riscos físicos, o transtorno afeta a saúde mental. Muitos pacientes sentem vergonha, medo de julgamento e acabam escondendo o comportamento, o que dificulta o diagnóstico. Isso pode levar ao isolamento social, à baixa autoestima e ao agravamento de quadros psiquiátricos preexistentes.

Imagem: Shutterstock

A longo prazo, o consumo desses materiais compromete a absorção de nutrientes, o que agrava deficiências já existentes e perpetua um ciclo de má nutrição. O risco é ainda maior em populações mais vulneráveis, que não têm acesso fácil a cuidados médicos ou acompanhamento psicológico.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da síndrome de pica é clínico e envolve uma análise cuidadosa do histórico comportamental da pessoa. O profissional de saúde avalia há quanto tempo o comportamento ocorre, qual a frequência da ingestão de substâncias não comestíveis e quais os impactos disso no cotidiano.

Além disso, são realizados exames físicos e laboratoriais para verificar se há deficiências nutricionais, como anemia ferropriva, ou outras complicações decorrentes do consumo de objetos. Também é comum que o médico peça apoio de psicólogos ou psiquiatras para avaliar a presença de transtornos associados.

A colaboração da família é essencial nesse processo, especialmente quando o paciente é uma criança. Observar e relatar com precisão os comportamentos é um passo fundamental para que o diagnóstico seja eficaz e o tratamento, adequado.

Pessoa recebendo diagnóstico médico
Pessoa recebendo diagnóstico médico / Crédito: Chinnapong (shutterstock/reprodução)

Qual o tratamento da síndrome de pica?

O tratamento da síndrome de pica depende diretamente da causa identificada. Quando a origem está em uma deficiência nutricional, o foco inicial é corrigir essa carência com suplementação alimentar. Já em casos relacionados a transtornos mentais, o acompanhamento psicológico e psiquiátrico é essencial.

A terapia comportamental é uma das abordagens mais eficazes, especialmente para crianças e adolescentes. Técnicas como reforço positivo e redirecionamento de comportamentos ajudam o paciente a substituir o impulso de comer objetos por ações mais saudáveis.

Em situações mais complexas, pode ser necessário o uso de medicação para controlar sintomas obsessivos ou ansiosos. O apoio familiar, a supervisão constante e a construção de um ambiente seguro também são fatores-chave para o sucesso do tratamento.

A síndrome de pica tem prevenção?

Embora nem todos os casos possam ser prevenidos, alguns cuidados ajudam a reduzir o risco de surgimento do transtorno. Manter uma alimentação equilibrada, rica em ferro, zinco e outros minerais, é uma medida básica. O acompanhamento pré-natal adequado também ajuda a identificar comportamentos incomuns durante a gravidez.

Em crianças, é importante observar o comportamento com atenção e estimular o desenvolvimento cognitivo por meio de brincadeiras, leitura e interação social. Ambientes negligentes, com pouco estímulo ou supervisão, tendem a favorecer o surgimento de comportamentos compulsivos.

Identificar precocemente sinais de deficiências nutricionais ou dificuldades emocionais pode fazer toda a diferença. A informação, nesse caso, é uma grande aliada para pais, cuidadores e profissionais da saúde.

A síndrome de pica é um transtorno real, com implicações médicas e psicológicas importantes. Embora seja rara e muitas vezes incompreendida, a condição exige atenção e tratamento. O consumo de objetos não comestíveis pode parecer apenas uma “mania”, mas esconde uma desordem que precisa de cuidado e acolhimento.

Diagnosticar cedo, oferecer apoio profissional e entender as possíveis causas são passos decisivos para ajudar quem sofre com esse transtorno. Com o tratamento adequado, é possível controlar os impulsos, evitar complicações e recuperar a qualidade de vida.

As informações presentes neste texto têm caráter informativo e não substituem a orientação de profissionais de saúde. Consulte um médico ou especialista para avaliar o seu caso.

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