Um artigo disponível no repositório online de pré-impressão arXiv, onde aguarda revisão por pares, descreve a impressionante descoberta de 15 novas galáxias de rádio gigantes, localizadas em uma região do céu conhecida como “Campo do Escultor”.
A detecção foi feita pelo telescópio australiano ASKAP (Matriz de Quilômetro Quadrado Pathfinder), um dos instrumentos mais avançados do mundo para observações em ondas de rádio. Essas galáxias são algumas das maiores estruturas já encontradas no Universo.
As galáxias de rádio gigantes são diferentes das galáxias comuns, como a Via Láctea. Elas possuem enormes jatos de matéria que saem de seus núcleos, formando lóbulos que emitem ondas de rádio. Esses jatos são lançados por buracos negros supermassivos que ficam no centro dessas galáxias. O tamanho dessas estruturas pode ultrapassar 12 milhões de anos-luz, o que corresponde a mais de 100 vezes o tamanho da Via Láctea.
A maior dessas novas galáxias, chamada ASKAP J0107-2347, impressiona não só pelo tamanho, mas também por sua estrutura incomum. Ela apresenta dois pares de lóbulos de rádio: um interno, mais brilhante, e outro externo, mais fraco e alongado. Isso sugere que o buraco negro central pode ter “desligado” e “ligado” novamente, criando uma espécie de “boneca russa” cósmica, com camadas sobrepostas de atividade.
Esses jatos são formados quando o buraco negro central começa a engolir gás, poeira e outras matérias ao redor. O processo libera uma quantidade enorme de energia, que escapa em forma de jatos. Quando os jatos colidem com o meio ao redor, eles criam lóbulos que emitem sinais detectáveis por radiotelescópios. Quando o buraco negro fica inativo, os lóbulos começam a desaparecer com o tempo – a menos que algo os reative.

Pesquisadores querem entender como essas galáxias crescem tanto
Ao site Space.com, a pesquisadora Baerbel Silvia Koribalski, da Universidade do Oeste de Sydney, disse que o estudo dessas galáxias pode ajudar a entender como elas crescem tanto. Para isso, segundo ela, é necessário observar os detalhes dos lóbulos e dos jatos com instrumentos sensíveis e capazes de capturar imagens de alta resolução em ondas de rádio. E o ASKAP se destaca justamente por isso.
Ele é formado por 36 antenas que trabalham em conjunto como um só telescópio, conseguindo observar grandes áreas do céu de uma vez só, com grande detalhe. Enquanto outros radiotelescópios observam áreas pequenas, o ASKAP cobre cerca de 30 graus quadrados em cada imagem, o que permite identificar muito mais objetos em menos tempo. Por essa razão, ele é uma ferramenta poderosa para descobrir galáxias raras e distantes.
Os dados usados nesse estudo se concentraram ao redor da galáxia NGC 253, também conhecida como “Galáxia do Escultor”, localizada a cerca de 8 milhões de anos-luz da Terra. Essa região do céu foi observada com grande profundidade, revelando detalhes que outros telescópios não conseguem ver. Foi nesse campo que as 15 novas galáxias de rádio gigantes foram detectadas.

A análise dessas galáxias mostrou que muitas delas apresentam lóbulos de rádio antigos, quase apagados, além de novos jatos ativos. Isso reforça a teoria de que o buraco negro central pode reiniciar sua atividade após períodos de inatividade. Esse ciclo de “liga e desliga” seria responsável pelas diferentes camadas observadas nas galáxias, como se elas fossem compostas por jatos e lóbulos de diferentes gerações.
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O que faz esses buracos negros reiniciarem a atividade?
Os cientistas acreditam que as interações entre galáxias, como colisões, podem provocar esse reinício. Quando duas galáxias se fundem, a matéria ao redor do buraco negro pode ser perturbada e voltar a alimentá-lo, gerando novos jatos de energia. Essas fusões também podem causar estruturas curiosas, como caudas em forma de “águas-vivas” ou “saca-rolhas”.
A profundidade das observações do ASKAP permite ver essas estruturas mais fracas e antigas, que geralmente passam despercebidas em levantamentos menos sensíveis. Isso é essencial para estudar a história dessas galáxias e entender como elas evoluem ao longo de bilhões de anos. A galáxia ASKAP J0107-2347, por exemplo, é considerada um excelente caso de estudo em “arqueologia galáctica”.
A equipe espera que o ASKAP continue aumentando o número de galáxias de rádio gigantes conhecidas, tanto próximas quanto distantes. Como suas imagens cobrem grandes áreas do céu e são ricas em detalhes, é possível encontrar até mesmo objetos raros que antes não eram notados. Isso abre novas possibilidades para estudar o funcionamento dos buracos negros e a formação das maiores estruturas do Universo.
Essas descobertas mostram que o cosmos ainda tem muitos mistérios a revelar – e que ferramentas modernas como o ASKAP estão ajudando a decifrar as pistas espalhadas pelo espaço. Cada nova galáxia descoberta é como uma peça de um quebra-cabeça gigante que nos aproxima de entender como o Universo se forma, evolui e se transforma.
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