Evento Carrington: Terra pode voltar a ser atingida por megatempestade solar?

Numa noite quente na Flórida, em agosto de 1859, o céu brilhou de forma inesperada. O que parecia ser o amanhecer ou talvez um incêndio distante, era na verdade a aurora boreal. Esse fenômeno geralmente só aparece em regiões próximas aos polos, mas naquela ocasião foi visto até na América Central. Pessoas acharam que o dia já estava começando, de tão iluminado que o céu ficou em algumas localidades.

Ao mesmo tempo, na Inglaterra, o astrônomo amador Richard Carrington observava o Sol com seu telescópio examinando manchas solares, quando viu dois pontos brilhantes que não deveriam estar ali. Sem saber, ele estava testemunhando o começo do que viria a ser chamado de Evento Carrington – a maior tempestade solar já registrada.

Em poucas palavras:

  • Em 1859, uma tempestade solar intensa causou auroras fora do comum e danificou linhas de telégrafo com choques e curtos-circuitos;
  • O fenômeno foi causado por uma ejeção de massa coronal, partículas solares que afetam o campo magnético da Terra;
  • Hoje, um evento assim poderia afetar satélites, redes elétricas e sistemas de navegação, por causa da nossa alta dependência tecnológica;
  • Satélites da NASA monitoram a atividade solar, que aumenta durante o máximo solar, previsto para iniciar no segundo semestre deste ano;
  • Mesmo com baixa probabilidade, o impacto de uma nova tempestade extrema como o chamado Evento Carrington seria tão grande que cientistas seguem em alerta constante.
O que aconteceria se uma megatempestade solar atingisse a Terra nos dias de hoje? Crédito: tobe_dw – Shutterstock

Esse tipo de evento acontece quando o Sol libera uma nuvem gigante de partículas carregadas, chamadas ejeção de massa coronal (CME). Essas partículas viajam a altíssima velocidade e, se atingirem a Terra, podem bagunçar o campo magnético do planeta. Foi isso que causou as auroras anormais e outros efeitos graves em 1859.

Na época, o principal meio de comunicação era o telégrafo, e as consequências foram imediatas. Fios pegaram fogo, operadores levaram choques e alguns ficaram feridos. As linhas longas dos telégrafos funcionavam como antenas, captando a energia da tempestade solar e causando curtos-circuitos.

De lá para cá, aprendemos a proteger melhor os sistemas elétricos. No entanto, hoje somos muito mais dependentes da eletricidade e de tecnologias sensíveis, como satélites e redes de internet. Um novo evento parecido pode ser muito mais destrutivo. 

Efeitos de um novo Evento Carrington seriam catastróficos

Alex Gianninas, astrofísico do Connecticut College, nos EUA, explica em uma entrevista ao site Popular Science que uma tempestade desse tipo hoje afetaria desde satélites até a rede elétrica global. A energia liberada pode queimar componentes eletrônicos, prejudicar sistemas de navegação e até mudar a rota de satélites, aumentando o risco de colisões no espaço.

CMEs liberadas por grandes explosões do Sol são comuns, mas geralmente de bem menor intensidade. A frequência e força delas varia com o ciclo solar, que dura cerca de 11 anos. Atualmente, estamos nos aproximando do chamado “máximo solar”, quando essas explosões se tornam mais frequentes e perigosas. O pico está previsto para acontecer no início do segundo semestre.

“Aurora Borealis”, pintura de Frederic Edwin Church provavelmente inspirada na Grande Tempestade Solar de 1859
“Aurora Borealis”, pintura de Frederic Edwin Church provavelmente inspirada na Grande Tempestade Solar de 1859. Crédito: Museu de Arte Americana Smithsonian

Durante o máximo solar, podem ocorrer várias erupções por dia. Já nos períodos de mínimo solar, o número cai para menos de uma por semana. Esse aumento natural na atividade solar é acompanhado de perto por cientistas do mundo todo.

Mesmo que as chances de um novo Evento Carrington sejam consideradas pequenas (cerca de 12% para este século), o impacto seria tão grande que o assunto é levado muito a sério. Hoje existem satélites dedicados exclusivamente a observar o Sol e suas explosões, como o Observatório de Dinâmicas Solares (SDO) e o STEREO, ambos da NASA.

Eles registram imagens em diferentes tipos de luz, inclusive aquelas que não conseguimos ver a olho nu. Assim, fornecem dados importantes sobre o que está prestes a acontecer no espaço.

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Como se preparar para uma megatempestade solar

Quando uma tempestade solar começa, pode levar de algumas horas a dois dias para as partículas chegarem à Terra. Esse tempo permite um certo aviso prévio. O Centro de Previsão do Clima Espacial da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) monitora tudo e ajuda a informar onde e quando uma aurora poderá aparecer – e se há risco para satélites ou redes elétricas.

Para o cidadão comum, não há muito o que fazer, além de manter lanternas e celulares com bateria à mão, como se fosse um apagão prolongado. Já as companhias de energia e as equipes da Estação Espacial Internacional (ISS) podem usar esse tempo para proteger seus sistemas.

Mesmo com o risco envolvido, o fenômeno fascina cientistas e curiosos. O estudo do Sol ajuda a entender tanto as ameaças espaciais quanto os mistérios da vida. Como comentou o astrofísico Hugh Hudson, da Universidade de Glasgow, na Escócia, “o Sol é algo muito próximo e familiar, mas ainda nos surpreende como um eclipse ou uma aurora brilhando onde não deveria”.

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