Geólogos detectam “batimentos cardíacos” sob o solo da África

Uma equipe de geólogos identificou um fenômeno curioso na África: um tipo de “batimento cardíaco” vindo do interior da Terra. O estudo, publicado nesta quarta-feira (25) na revista Nature Geoscience, analisou a composição química de rochas vulcânicas na Etiópia e revelou variações que indicam pulsos rítmicos na chamada pluma do manto da região de Afar, uma enorme coluna de rocha quente que sobe das profundezas do planeta.

Esses pulsos ajudam a explicar por que Afar é uma das áreas mais ativas do mundo em termos de formação de fendas na crosta terrestre. A movimentação da pluma está, aos poucos, fragmentando o continente africano e formando um novo oceano. Esse tipo de pluma costuma aparecer sob o mar, como no Havaí, mas a de Afar é especial por atravessar a crosta continental, que é mais espessa.

Em poucas palavras:

  • Geólogos descobriram “batimentos cardíacos” no interior da Terra sob a região de Afar, na Etiópia;
  • A pluma do manto sobe com pulsos rítmicos, fragmentando aos poucos o continente africano;
  • Análises químicas de rochas revelaram variações periódicas, indicando um manto heterogêneo e pulsante;
  • Esses pulsos canalizam magma por fendas tectônicas, influenciando vulcões, terremotos e separação continental;
  • Fenômeno semelhante ocorre em outras regiões do planeta; 
  • Próximos estudos investigarão velocidade e impacto desses fluxos.
Imagem microscópica de uma fina lasca de uma das rochas vulcânicas de Afar, Etiópia. Crédito: Emma Watts/Universidade de Southampton/Universidade de Swansea

O funcionamento das plumas do manto ocorre quando material extremamente quente sobe de grandes profundidades da Terra, às vezes da fronteira com o núcleo. Quando alcançam a superfície, essas plumas podem causar atividade vulcânica intensa. No caso de Afar, essa atividade tem ligação direta com o surgimento de três grandes fendas tectônicas que se cruzam na região.

“Batimento cardíaco” da África é diferente de outros pontos do globo

Para entender como isso acontece, a equipe liderada pela geóloga Emma Watts, da Universidade de Southampton, na Inglaterra, analisou 130 amostras de rochas de erupções recentes, com menos de 2,6 milhões de anos. As amostras foram comparadas com rochas mais antigas da região. O objetivo era detectar variações químicas ao longo do tempo.

Os resultados mostraram que a composição dessas rochas muda de forma rítmica, como se o interior da Terra tivesse um pulso próprio. Conforme Watts explica em um comunicado, o manto sob Afar não é uniforme nem estático. Ele pulsa, e cada um desses pulsos traz uma assinatura química diferente, indicando variações nas condições dentro da Terra ao longo de milhões de anos. 

Fluxos de lava basáltica fresca na região de Afar, na Etiópia. Crédito: Derek Keir/Universidade de Southampton/Universidade de Florença

“Esses pulsos ascendentes do manto parcialmente derretido são canalizados pelas placas em rifte acima”, revela Watts. “Isso é importante para a forma como pensamos sobre a interação entre o interior da Terra e sua superfície”.

O professor Tom Gernon, coautor do estudo, comparou o fenômeno ao fluxo de sangue em uma artéria. Ele explicou que, em áreas onde as placas tectônicas se afastam mais rápido, como no Mar Vermelho, os pulsos do manto viajam de maneira mais eficiente e regular, como um batimento acelerado.

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Fenômeno afeta vulcões, terremotos e continentes

De acordo com os pesquisadores, essas pulsações são resultado de diferenças na composição do manto profundo. Essas diferenças surgem da reciclagem de material pela tectônica de placas e de áreas que permanecem inalteradas desde a formação da Terra. Cada pulso carrega materiais com propriedades distintas.

Professor Tom Gernon coletando amostras de depósitos vulcânicos no vulcão Boset, no Rift Etíope Principal. Crédito: Thomas Gernon/Universidade de Southampton

O estudo também revelou que o fluxo do manto pode se mover lateralmente sob as placas tectônicas, concentrando a atividade vulcânica nas regiões onde a crosta terrestre é mais fina. Segundo o geólogo Derek Keir, outro membro do time, também de Southampton, isso influencia diretamente a formação de vulcões, terremotos e o processo de separação dos continentes.

Embora os pulsos observados sejam específicos da pluma de Afar, fenômenos semelhantes já foram detectados em outras regiões do globo, como nas Ilhas Canárias, na Espanha. No entanto, em lugares como o Havaí, as variações químicas ocorrem mais no espaço do que no tempo. O próximo passo da pesquisa será entender melhor a velocidade desses fluxos e como eles afetam a superfície da Terra.

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