As sanções impostas pelos Estados Unidos têm como objetivo impedir o avanço da China em setores considerados estratégicos, como o de chips semicondutores e de inteligência artificial. Para superar estes obstáculos, Pequim aposta na indústria doméstica, especialmente na Huawei.
Já foram investidos dezenas de bilhões de dólares para tornar a empresa autossuficiente. Mas especialistas ouvidos pela CNBC apontam que o caminho para os chineses se tornarem totalmente independentes das cadeias de suprimento globais ainda é longo.
China precisa dominar diversos segmentos
Analistas destacam que existem segmentos considerados chave para a fabricação de chips de IA. O desenvolvimento de unidades de processamento gráfico (GPU), por exemplo, é dominado pela Nvidia. Com as restrições, diversas empresas chinesas tentaram assumir esta função, mas o grande destaque vai para o braço de design de chips da Huawei, a HiSilicon.
Em comparação com os chips com restrição de exportação da Nvidia, a diferença de desempenho entre a Huawei e o H20 é menor do que uma geração completa. A Huawei não está muito atrás dos produtos que a Nvidia tem permissão para vender na China.
Dylan Patel, fundador, CEO e analista-chefe da SemiAnalysis
Outro obstáculo está relacionado ao processo de fundição de chips. A Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) é o principal expoente do setor e também está proibida de fazer negócio com Pequim. Neste caso, a alternativa é a SMIC. Existem evidências de que a empresa chinesa fez progressos importantes, inclusive no desenvolvimento de um chip 5G de 5 nanômetros para o Mate 60 Pro da Huawei, mas há um problema.
A Huawei é uma empresa de design de chips muito boa, mas ainda não tem bons fabricantes de chips domésticos. A capacidade de operação conhecida da SMIC é limitada pelos controles de exportação e ainda é ofuscada pela da TSMC.
Ray Wang, analista independente de chips e tecnologia

O maior desafio, no entanto, é a produção de sistemas de litografia para a indústria de semicondutores. Estas ferramentas são essenciais para criar GPUs avançadas em escala e de forma econômica, e a líder global neste setor é a ASML, dos Países Baixos (Holanda). A SMIC até conseguiu contornar parte das restrições usando sistemas de litografia ultravioleta profunda menos avançados, mas isso não deve ser o suficiente.
Esta é a barreira mais significativa para a produção chinesa de chips avançados. Eles têm a maioria das outras ferramentas disponíveis, mas a litografia está limitando sua capacidade de escalar para nós de processo de 3 nm e abaixo. Com os rendimentos atuais, parece que a SMIC não pode produzir aceleradores domésticos suficientes para atender à demanda.
Jeff Koch, analista da SemiAnalysis
Outra alternativa é a SiCarrier Technologies. O problema, segundo o especialista, é que reproduzir as ferramentas de litografia existentes pode levar anos, ou até décadas. Em vez disso, é provável que a China busque outras tecnologias e diferentes técnicas para impulsionar o seu mercado.
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Disputa pela hegemonia tecnológica mundial
- Além de fomentar a produção nacional de chips e o desenvolvimento da inteligência artificial, o governo dos Estados Unidos tenta impedir o acesso da China aos produtos.
- O movimento tem sido chamado de “guerra dos chips“.
- Pequim foi impedida não apenas de importar os chips mais avançados, mas também de adquirir os insumos para desenvolver seus próprios semicondutores e supercomputadores avançados, e até mesmo dos componentes, tecnologia e software de origem americana que poderiam ser usados para produzir equipamentos de fabricação de semicondutores para, eventualmente, construir suas próprias fábricas para fabricar seus próprios chips.
- Além disso, cidadãos norte-americanos não podem mais se envolver em qualquer atividade que apoie a produção de semicondutores avançados na China, seja mantendo ou reparando equipamentos em uma fábrica chinesa, oferecendo consultoria ou mesmo autorizando entregas a um fabricante chinês de semicondutores.
- Por fim, a Casa Branca anunciou recentemente novas regras com o objetivo de impedir que Pequim tenha acesso aos produtos por meio de países terceiros.
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