IA desmascara supostos vestígios de água em Marte

Um artigo publicado nesta segunda-feira (19) na revista Nature Communications coloca em dúvida uma das principais pistas sobre a presença de água líquida em Marte. Pesquisadores da Universidade Brown, nos EUA, e da Universidade de Berna, na Suíça, usaram Inteligência Artificial (IA) para analisar mais de 86 mil imagens de satélite do planeta. 

A análise concluiu que faixas escuras vistas em encostas e crateras marcianas provavelmente não são causadas por água, mas por processos secos relacionados ao vento e à poeira.

Durante décadas, cientistas observaram essas marcas escorrendo por morros e paredes de crateras, acreditando que poderiam ser causadas por fluxos de água salgada. Isso sugeria a existência de locais temporariamente habitáveis em Marte. As marcas, chamadas de “linhas de declive recorrentes” (RSLs, na sigla em inglês), aparecem repetidamente nos mesmos locais durante as épocas mais quentes do ano marciano, o que reforçava essa teoria.

Faixas e linhas de declive recorrentes registradas em Marte. Crédito: ESA / Bickel, V.T., Valantinas, A.

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Mapeamento inédito feito com IA detectou mais de 500 mil faixas espalhadas por Marte

Embora Marte seja um planeta muito seco e frio, alguns cientistas acreditam que pequenas quantidades de água ainda poderiam existir se misturadas com sais, que ajudam a baixar o ponto de congelamento. Essa água poderia vir de gelo subterrâneo ou da umidade do ar. Se confirmadas, essas regiões poderiam ser bons alvos para procurar sinais de vida.

No entanto, o novo estudo oferece uma visão alternativa. Para entender melhor a origem das listras, os pesquisadores usaram um algoritmo de aprendizado de máquina, capaz de identificar automaticamente as marcas nas imagens. O sistema criou um mapa inédito com mais de 500 mil faixas espalhadas por todo o planeta. Com esses dados, os cientistas puderam cruzar informações com variáveis como temperatura, umidade, ventos e presença de poeira.

A análise estatística mostrou que as faixas são mais comuns em regiões com ventos fortes e maior acúmulo de poeira, e não em áreas que indicariam a presença de água. As marcas mais recentes aparecem, por exemplo, perto de crateras de impacto, onde a poeira pode ter sido remexida. Também estão em locais com quedas de rochas ou redemoinhos de poeira. Isso indica que os processos que formam essas listras são secos, e não causados por líquidos.

A câmera CaSSIS a bordo do satélite ExoMars, da Agência Espacial Europeia (ESA) captura faixas escuras que se estendem pela superfície empoeirada de Marte. Crédito: ESA / Bickel, V.T., Valantinas, A.

Descoberta diminui risco de contaminação por micróbios terrestres

Os resultados mudam o foco sobre o potencial de vida atual em Marte. Se essas faixas não são causadas por água, a chance de existirem ambientes habitáveis nessas regiões diminui bastante. Isso também tem impacto direto nos planos das futuras missões espaciais. A NASA, por exemplo, evita pousar em locais com suspeita de água líquida para não correr o risco de levar micróbios da Terra e contaminar o ambiente marciano.

Com base nessas novas evidências, os cientistas acreditam que essas áreas podem ser exploradas com menor risco de contaminação. “Essa abordagem com big data nos ajuda a descartar algumas hipóteses antes mesmo de enviar sondas ao planeta”, explicou Adomas Valantinas, coautor do estudo, em um comunicado. A descoberta não elimina totalmente a possibilidade de água em Marte, mas redefine onde e como ela deve ser procurada.

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