IAs roubando empregos? Startup admite que quer exatamente isso para o futuro

Inteligências artificiais vão roubar nossos empregos? Essa pergunta pode ter respostas diferentes, dependendo de quem esteja respondendo. Há quem diga que elas serão apenas uma ferramenta que auxilia humanos a atingirem resultados mais satisfatórios exigindo menos esforço. E há quem garante que sim, elas vão roubar nossos empregos. Há, inclusive, uma empresa que está trabalhando exatamente para isso.

A Mechanize é uma startup de IA que admite ter como objetivo principal automatizar todos os trabalhos. E quando eles dizem todos, eles querem dizer todos mesmo. Jornalistas, médicos, advogados, desenvolvedores, gestores, professores. Todos eles seriam substituídos por uma IA, no mundo projetado pela Mechanize.

“Queremos uma economia totalmente automatizada, e queremos que isso ocorra o mais rápido possível”, diz Tamay Besiroglu, um dos fundadores da Mechanize, em uma entrevista ao jornal norte-americano The New York Times.

Imagem: NONGASIMO/Shutterstock

A empresa é recente. Besiroglu fundou a Mechanize neste ano, em parceria com Ege Erdil e Matthew Barnett, dois nomes conhecidos do mundo da IA que trabalharam em conjunto na Epoch AI, uma empresa de pesquisas que estuda as capacidades dos sistemas de IA.

Reforço de aprendizado é o caminho, segundo a Mechanize

Para atingir o objetivo ousado e controverso de substituir todo o trabalho humano por IA, a Mechanize adotou uma abordagem conhecida como reforço de aprendizado — é o mesmo método usado há cerca de uma década para fazer uma IA aprender a jogar Go melhor do que um ser humano, e que até hoje é usado em modelos de linguagem.

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Essa abordagem se comprovou eficiente para resolver alguns tipos de tarefas, como escrever textos, códigos ou realizar cálculos matemáticos. Mas, para muitos tipos de trabalho existentes por aí, ele pode não ser o suficiente.

E é por isso que a Mechanize trabalha na criação de um novo ambiente de treinamento para esses modelos, ao simular tarefas mais trabalhosas, ou mesmo os sistemas corporativos complexos encontrados em muitas empresas.

Um exemplo é um ambiente que simula um computador que um engenheiro de software usaria — com todas as ferramentas e plataformas que ele manteria aberto durante o expediente, seja e-mail, comunicação instantânea, navegador web ou um simples software para programas.

A IA pretende realizar uma tarefa considerando todos esses fatores — e-mails chegando a todo momento, novas orientações via mensageiro instantâneo, e mais. A partir de tentativa e erro, ela conseguiria aprender a fazer o mesmo que um engenheiro humano conseguiria dentro das mesmas condições que são impostas a ele no ambiente de trabalho.

O começo é pela programação — mas e o resto?

A abordagem da Mechanize pode funcionar em determinadas tarefas, como programação, que é também o foco inicial do projeto. Mas, para outras profissões, é difícil enxergar o método tendo a mesma eficácia.

O trabalho de um programador é relativamente simples de ser avaliado. O código pode funcionar, ou não. Isso facilita definir ações como certas ou erradas. Se uma IA tenta programar e o código não funciona, ela precisa buscar outra forma de atingir o resultado esperado.

humanos e robôs
(Imagem: Monster Ztudio / Shutterstock.com)

Mas algumas profissões são mais complexas, e, acima de tudo, não oferecem resultados imediatos.

Determinar o sucesso ou fracasso de um professor, por exemplo, não é tão simples. O impacto de um bom professor não é medido apenas em provas — a influência na vida de um aluno pode não ser imediata, mas aparecer anos e anos após o contato com o professor. Em outros casos, um tutor pode ajudar alunos a conseguirem boas notas em uma prova específica, mas não reter necessariamente o conhecimento para o resto da vida.

Ao New York Times, a Mechanize reconheceu a dificuldade em atingir o objetivo de automatizar todos os trabalhos. E é por isso que a startup acredita que essa transformação vai levar décadas — coisa de 10 anos, sendo otimista, mas algo entre 20 e 30 anos.

E o que fazer com os trabalhadores depois disso?

Vamos considerar que a Mechanize foi bem-sucedida em seu projeto de automatizar todos os trabalhos do mundo em algumas décadas. O que vai acontecer com os trabalhadores nas próximas décadas?

Besiroglu está no time dos mais otimistas, para não dizer utópicos: ele acredita que a inteligência artificial vai criar uma “abundância radical” e um nível de riqueza que será facilmente distribuído entre todos os trabalhadores — ou ex-trabalhadores.

Mãos de humano e de robô espalmadas; entre elas, a representação de uma cabeça humana formada por circuitos e um chip de computador escrito "IA" em seu centro
(Imagem: Kitinut Jinapuck/Shutterstock)

Poderíamos chegar a um padrão elevado de vida, em que não precisaríamos trabalhar, mas teríamos acesso a tudo o que há de bom e de melhor. Esse é o objetivo utópico que os fundadores da Mechanize acreditam conseguirem atingir com a tecnologia que está sendo desenvolvida na empresa.

E até lá? Assim como muitas vendedoras de futuros utópicos, a Mechanize vê o presente e imagina como deveria ser o futuro, mas não consegue solucionar o que aconteceria entre o trabalho de hoje e o futuro sem trabalho. Talvez falte ao Vale do Silício um pouco mais de preocupação com essa fase de transição.

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