A Idade Média é um período fascinante – e que costuma chamar atenção de cientistas e outros curiosos. Livros dessa época são um verdadeiro achado: eles descrevem criaturas fantásticas em ricos detalhes, normalmente com ilustrações para acompanhar. Alguns deles eram feitos de pele de animais (e, as vezes, até humanos), tornando tudo ainda mais peculiar.
Um conjunto de cadernos medievais na França leva essa ‘peculiaridade a outro nível’. Os achados, descritos em um estudo publicado esta semana na Royal Society Open Science, tem um acabamento… diferente. As capas são cobertas por couro e tufos de pelo de um animal distante – e nos dão pistas sobre como funcionava a sociedade na era medieval.
Livros da Idade Média foram preservados
Segundo o New York Times, os livros medievais chamados bestiários continham detalhes curiosos sobre animais fantásticos. Muitas vezes, as próprias peças dependiam de animais para existir: a encadernação frequentemente era feita em pele de bezerros, cabras, ovelhas, porcos e veados (em alguns casos, até pele humana).
Já em outros casos, eles eram cobertos de couro com pelos. É o caso de um conjunto de cadernos do nordeste da França, originalmente feito na Abadia de Clairvaux, um centro para monges católicos na região. Vale lembrar que o país, na Idade Média, abrigava uma das maiores bibliotecas da Europa.
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Cerca de 1.450 volumes da coleção da abadia sobreviveram e metade deles permanece em seu estado original. Alguns foram modificados ao longo do tempo, ganhando encadernação no estilo românico (que os deixava parecido com pergaminhos).
Nesses casos, os livros medievais eram colocados dentro de uma segunda capa feita de pele com pelos, provavelmente de javalis, veados ou outros mamíferos. No entanto, o estudo revelou que os folículos capilares de alguns desses manuscritos não combinavam com nenhum dos animais mais conhecidos, levantando dúvidas sobre sua origem.

Equipe analisou origem dos pelos
O trabalho foi liderado por Matthew Collins, bioarqueólogo da Universidade de Copenhagen e da Universidade de Cambridge. Ele revelou que os livros da era medieval eram muito ásperos e peludos para serem couro de bezerro.
Ele resolveu identificar a origem do material, algo que se provou bem complicado:
- O Dr. Collins e sua equipe analisaram as capas peludas de 16 livros que pertenceram à Abadia de Clairvaux;
- Eles esfregaram o lado da carne do couro em borrachas, para remover pequenas amostras do material;
- Então, eles aplicaram uma série de técnicas para analisar o DNA e as proteínas do couro.
O estudo concluiu que os livros não eram encadernados em peles de mamíferos tradicionais da região, mas sim em couro de foca (com os pelos junto). A comparação do DNA com dados atuais revelaram que os animais eram originários da Escandinávia e Escócia, podendo chegar até a Islândia ou Groenlândia.
Na Idade Média, essas áreas eram conectadas por uma rede de comércio marítimo, que, inclusive, negociava marfim e as peles das focas. No entanto, Clairvaux ficava em uma região no interior da França, bem longe do mar.

Descoberta revela segredos da Idade Média
De acordo com Mary Wellesley, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Histórica de Londres e especialista em manuscritos medievais, as descobertas dão pistas sobre a sociedade da Idade Média. Ela não esteve envolvida no estudo.
Wellesley revelou ao NYT que as focas eram uma mercadoria valiosa por causa de sua carne, gordura e pele impermeável, que podia ser transformada em roupas, calçados e em capas de livros. A prática da encadernação era comum na costa da Escandinávia e Irlanda, mas era rara na Europa continental.
Mesmo assim, a pele de foca chegou aos monges franceses. É possível que eles usaram o material para encadernar registros importantes, dada a resistência do couro. Outra hipótese que poderia explicar o motivo da predileção pelas focas era sua pele branca (com o tempo, ficou amarelada), que combinava com as vestimentas dos monges em uma época em que materiais brancos eram raros.
Além disso, as focas tinham um certo apelo na era medieval. Bestiários as chamavam de “bezerros do mar”, revelando uma certa curiosidade e fascínio pelo animal.
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