Conforme noticiado pelo Olhar Digital, em um feito científico que evoca cenas da popular série “Game of Thrones“, pesquisadores de uma empresa estadunidense de biotecnologia e engenharia genética revelaram o nascimento de três filhotes de lobo cinzento com genes de lobo terrível, uma espécie que existiu há cerca de 12 mil anos.
Isso foi anunciado como se o lobo extinto tivesse voltado à vida em laboratório – mas, erá que foi isso mesmo que aconteceu?
Na segunda-feira (7), a Colossal Biosciences causou alvoroço ao divulgar o nascimento de três lobos com traços genéticos do extinto lobo-terrível, batizados de Romulus, Remus e Khaleesi. A empresa afirmou que restaurou a espécie pela primeira vez por meio da “ciência da desextinção”. Segundo comunicado, o feito representa o retorno do lobo-terrível ao ecossistema tantos milênios depois de seu desaparecimento.
Em poucas palavras:
- Três filhotes com genes do extinto lobo-terrível nasceram em um laboratório nos EUA;
- A empresa responsável afirma ter usado biotecnologia para recriar a espécie após 12 mil anos;
- Especialistas contestam, dizendo que os animais são apenas lobos cinzentos com pequenas modificações genéticas;
- Cientistas destacam que aparência e comportamento similares não bastam para definir uma espécie extinta;
- Para muitos, o projeto exagera seus resultados e serve mais para publicidade do que para avanços científicos reais.
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Desextinção de lobo-terrível é controversa
A declaração gerou entusiasmo, mas também muitas dúvidas na comunidade científica. Para o geneticista Jeremy Austin, diretor do Centro Australiano de DNA Antigo, a Colossal criou apenas um lobo cinzento modificado que lembra a imagem idealizada de um lobo-terrível.
Em entrevista ao site Science Alert, ele destacou que as diferenças morfológicas entre os canídeos são sutis e que fósseis não garantem uma reconstrução visual precisa do animal extinto.
Beth Shapiro, bióloga evolucionista da Colossal, defendeu que o conceito de espécie é subjetivo. Ao site New Scientist, ela afirmou que todos podem discordar sobre o que define uma espécie – e que todos podem estar certos. Segundo a cientista, se o animal parece, age e cumpre o papel da espécie extinta, isso basta.

Mas Austin não comprou esse argumento. Comparou a retórica da empresa à fábula “As Roupas Novas do Imperador”. Para ele, a Colossal “vendeu” um lobo-terrível que não passa de um lobo branco e cinza. “Não acho que isso represente a desextinção de forma alguma”.
Outro cético é Adam Boyko, geneticista da Universidade Cornell, em Nova York. Ao jornal The New York Times, ele destacou que os filhotes não foram criados em ambientes que reproduzam o comportamento ou dieta dos lobos-terríveis, o que compromete a transmissão de traços culturais e biológicos importantes da espécie original.
O que um animal precisa para ser “ressuscitado”?
Segundo Boyko, os filhotes têm apenas 20 genes do lobo-terrível. Ele questiona se esse número é suficiente para considerar o animal “ressuscitado”. “Pode ser que precisemos de 2 mil genes para chegar perto”, alertou. Para ele, o impacto genético real ainda é incerto.
A própria Colossal reconheceu ao Science Alert que não está criando um lobo-terrível idêntico ao original, mas uma versão inspirada na espécie.
Austin ressaltou que seriam necessárias dezenas ou até centenas de milhares de alterações genéticas para recriar o animal com precisão. “Dizer que temos um lobo-terrível só porque ele é branco é ignorar tudo o que sabemos sobre genética e evolução”. Segundo ele, sem rigor científico, a promessa da desextinção acaba soando mais como marketing do que como ciência.
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