O que realmente aconteceu com as preguiças-gigantes?

As preguiças-gigantes caminharam pela Terra entre 2,5 milhões e 10 mil anos atrás. Esse representante da megafauna vivia nas Américas e era mais de 10 vezes maior dos que as preguiças atuais, podendo chegar a mais de 3 mil quilos.

Elas dominaram diferentes ambientes terrestres, desde o solo até o topo das árvores, mas um dia chegaram ao fim. Pesquisadores têm algumas teorias sobre os motivos que levaram a extinção, que vão desde as mudanças climáticas até a ação humana – ou, ainda, uma combinação dos dois.

Um estudo publicado este mês na revista Science analisou centenas de fósseis antigos para descobrir como as preguiças-gigantes evoluíram e como chegaram a seu fim.

Preguiças-gigantes viveram da América do Norte à América do Sul (Imagem: Diego Barletta/Museu da Flórida)

Índice

Como eram as preguiças-gigantes

A preguiça-gigante é um grupo de mamíferos formado por seis famílias e 88 gêneros. Esses animais habitaram a América do Norte, Central e América do Sul até cerca de 10 mil anos atrás.

Saiba mais sobre esses gigantes pré-históricos:

  • Algumas das preguiças-gigantes chegaram a medir o tamanho de um elefante asiático (entre 5 e 6 metros) e pesar cerca de 3.660 quilos;
  • No geral, elas variavam de tamanho. Por exemplo, algumas das preguiças terrestres pesavam cerca de 80 quilos, enquanto as que aprenderam a viver na copa das árvores pesavam cerca de 6 quilos;
  • Elas também tinham hábitos distintos. A Shasta vivia no solo e se alimentava de cactos nos desertos da América do Norte, enquanto a Megatherium tinha uma língua comprida, parecida com a do tamanduá, e podia arrancar folhas do topo das árvores;
  • Algumas delas não ficavam ao ar livre e preferiram viver em cavernas naturais. A própria Shasta, de tamanho moderado, preferia as cavernas nas costas dos penhascos do Grand Canyon. Já outras, maiores, usavam suas garras para cavar suas próprias cavernas.

Mas como esses animais tinham tamanhos tão diferentes? E o que aconteceu com eles?

Fezes de preguiças-gigantes encontradas em cavernas nos EUA (Imagem do National Park Service/Creative Commons)

Estudo analisou mais de 400 fósseis

O estudo publicado na Science resolveu descobrir. Para isso, a equipe analisou amostras de DNA antigo e comparou com mais de 400 fósseis de preguiças-gigantes armazenados em 17 museus de história natural.

Primeiro, a pesquisa quis entender como esses animais evoluíram para ter tamanhos tão diferentes. Rachel Narducci, coautora do estudo e gerente da coleção de paleontologia de vertebrados no Museu de História Natural da Flórida, revelou que algumas preguiças pareciam ursos pardos, mas cinco vezes maiores.

Essa diferenciação no tamanho pode ter ajudado diferentes espécies a encontrar comida e refúgio (como no caso das cavernas), e até evitar predadores.

A equipe combinou os dados sobre o formato dos fósseis com o DNA de espécies de preguiças vivas e extintas. Com isso, foi possível construir uma árvore evolutiva das preguiças até a origem de seus ancestrais, começando há 35 milhões de anos. Em seguida, os cientistas adicionaram o que já se sabia sobre as preguiças-gigantes a partir de pesquisas anteriores, como locais onde elas viveram, dietas e hábitos.

O tamanho do animal era um fator importante nessa análise. A equipe mediu o tamanho do fóssil completo da preguiça-gigante armazenada no Museu da Flórida, que tem um dos maiores acervos desse animal na América do Norte.

Tendo todos esses dados à disposição, os pesquisadores importaram as informações em um software de análise. Eles descobriram que o tipo de habitat foi o que influenciou o tamanho das preguiças-gigantes.

Isso levou à resposta da segunda pergunta: o que causou o fim desses animais?

Ossos de espécies diferentes (Imagem: Kristen Grace/Museu da Flórida)

Como as preguiças-gigantes foram extintas

A análise dos habitats conhecidos permitiu detalhar os motivos para a extinção das preguiças-gigantes.

No caso da América do Norte, uma grande fenda se abriu há cerca de 20 milhões de anos, entre o atual estado de Idaho e Washington. O magma que saiu desse buraco endureceu e criou uma crosta de quase 1,6 milhões de quilômetros cúbicos, que, segundo o site Popsci, ainda pode ser visto em alguns pontos ao longo do Rio Columbia. Esse evento aconteceu no Ótimo Climático do Mioceno Médio, um período conhecido pelo aquecimento global causado principalmente pela erupção vulcânica.

Nesse caso, as preguiças-gigantes tiveram que se adaptar, ficando menores. Isso pode ter acontecido porque o aquecimento favoreceu a precipitação, que favoreceu o crescimento de florestas – o habitat ideal para preguiças menores. Além disso, há registros de outras espécies que diminuíram por conta do estresse térmico.

Fósseis presentes no Museu de La Plata (Imagem: André Ganzarolli Martins/Wikimedia Commons)

No entanto, depois de um milhão de anos após a atividade vulcânica ter diminuído, começou um resfriamento contínuo que, novamente, forçou os animais a se adaptarem. Elas voltaram a crescer e migraram para montanhas dos Andes, savanas abertas, desertos e florestas da América do Norte.

Segundo Narducci, elas começaram a procurar alimento no oceano e desenvolveram adaptações semelhantes às dos peixes-boi, como costelas densas para flutuar e focinhos mais longos para comer ervas marinhas.

Com o tempo, as preguiças-gigantes também ficaram mais corpulentas (em massa), o que ajudou a lidar com climas mais frios, principalmente no Era do Gelo.

O motivo exato de extinção ainda está em debate na comunidade científica, mas, de fato, vêm de uma combinação de fatores decorrentes das mudanças climáticas.

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E como era de se esperar, a atividade humana também contribuiu para o fim desses gigantes pré-históricos, com a caça e a pressão por habitat exercida pelos humanos.

No final, esse grupo de animais foi extinto entre 15 e 10 mil anos atrás. Alguns parentes terrestres sobreviveram por mais tempo, como as espécies de preguiça-arborícola do Caribe, até 4.500 anos atrás. Hoje, temos apenas as preguiças que conhecemos, que medem cerca de 40 a 70 centímetros. Algumas espécies maiores chegam a 1 metro.

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