“Panquecas” na superfície de Vênus revelam característica peculiar da crosta

Vênus é conhecido por seus vulcões incomuns, apelidados de “cúpulas em forma de panqueca”. Essas formações são grandes e achatadas, parecendo vergões circulares que se erguem da superfície. Um estudo publicado este mês no Journal of Geophysical Research: Planets sugere que essas estruturas não resultam apenas da lava, mas também da flexibilidade da crosta do planeta, que afunda com o peso.

O que você vai ler aqui:

  • Vênus abriga mais de 1.600 formações vulcânicas;
  • Entre elas, estão as famosas “cúpulas de panqueca”, largas e achatadas como vergões circulares;
  • Essas cúpulas podem ser causadas por lava extremamente viscosa;
  • No entanto, sua forma também depende da flexibilidade da crosta venusiana;
  • A crosta de Vênus pode afundar sob o peso da lava, moldando as cúpulas como uma casca de laranja pressionada;
  • Cientistas analisaram a cúpula Narina Tholus e simularam fluxos de lava sobre terrenos flexíveis e rígidos em ambiente virtual;
  • As cúpulas reais se assemelharam mais aos modelos com crosta flexível e lava muito densa, superespessa e lenta;
  • Futuras missões podem confirmar o tipo de lava e revelar pistas sobre a geologia de Vênus.
Uma das famosas “panquecas” de Vênus em uma visão simulada por computador feita a partir dos dados da espaçonave Magellan, da NASA. Crédito: NASA / JPL

Mais de 1.600 grandes formações vulcânicas já foram encontradas em Vênus. Entre elas, as cúpulas de panqueca chamam atenção por sua forma: largas, com dezenas de quilômetros de diâmetro, mas com altura pequena, semelhante a uma panqueca achatada. Elas lembram uma versão esmagada do monte Mauna Loa, no Havaí, o maior vulcão ativo da Terra.

Ainda não se sabe exatamente como essas cúpulas se formam. Uma das teorias é que são criadas por lava extremamente viscosa, ou seja, muito espessa e pegajosa. Esse tipo de lava flui lentamente até parar completamente, formando essas estruturas achatadas ao se solidificar com o tempo.

Mas os autores do novo estudo acreditam que a lava, sozinha, não explica tudo. Segundo Madison Borrelli, pesquisadora do Instituto de Tecnologia da Geórgia e líder da equipe, a forma da crosta superior de Vênus também tem papel importante. Essa crosta pode se curvar sob o peso da lava, como a casca de uma laranja afundando quando pressionada.

Ela explicou ao site Live Science que se essa curvatura da crosta acontece junto da formação das cúpulas, ela pode deixar sinais visíveis, como uma elevação ao redor da estrutura. Em um estudo anterior, de 2021, Borrelli encontrou esses sinais em cerca de 20% das cúpulas de panqueca analisadas. Isso reforça a ideia de que a crosta de Vênus ajuda a moldar os vulcões.

“Cúpulas de panqueca” em Vênus possivelmente devem sua forma à crosta flexível do planeta, de acordo com um novo estudo. Crédito: NASA

Para testar essa hipótese, os pesquisadores estudaram uma cúpula específica chamada Narina Tholus, que tem 55 km de largura e está localizada em uma região circular chamada Coroa Aramaiti. Essa cúpula foi escolhida porque tem dados topográficos detalhados coletados pela sonda Magellan, da NASA, na década de 1990.

Estudo criou simulação computacional da superfície de Vênus

Os cientistas criaram um modelo virtual da cúpula Narina Tholus e simularam diferentes tipos de lava escorrendo sobre dois tipos de terreno – uma crosta flexível e uma litosfera rígida. Eles queriam entender como essas diferenças afetariam a forma final das cúpulas.

O resultado foi claro: as cúpulas criadas sobre crostas flexíveis se pareciam muito mais com as cúpulas reais. Elas tinham topos achatados e laterais íngremes, características marcantes das cúpulas de panqueca. A crosta flexível criava uma espécie de barreira, que impedia a lava de se espalhar demais e fazia com que ela se acumulasse.

A densidade da lava também fez diferença. Apenas lavas muito densas, com mais que o dobro da densidade da água, conseguiram formar as cúpulas do jeito certo. Essas lavas são incrivelmente espessas – “mais de um trilhão de vezes mais viscosas que ketchup”, segundo Borrelli – e levaram centenas de milhares de anos para se solidificar.

Apesar dos avanços, o estudo tem limitações. Ele analisou apenas uma cúpula, e mais dados são necessários. A pesquisadora espera que futuras missões, como a VERITAS, da NASA, forneçam imagens mais detalhadas da superfície de Vênus.

Essas novas informações podem ajudar a identificar exatamente que tipo de lava forma as cúpulas de panqueca. Além da lava basáltica comum, os cientistas não descartam a presença de lavas mais raras, como as riolíticas e andesíticas. Se forem confirmadas, essas descobertas podem revelar detalhes sobre a história geológica de Vênus – e até pistas sobre a existência de água no passado.

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