Qual é o som do Sol?

Já pensou como seria o som do Sol, se pudéssemos escutá-lo? Algo como uma explosão constante? Um rugido distante? Ou talvez um batimento lento e poderoso? Embora esteja a cerca de 150 milhões de km da Terra, o astro é em torno de 100 vezes maior que nosso planeta – ainda assim, não escutamos nada vindo dele. E mesmo com suas fortes erupções, capazes de interferir nos sinais de GPS e nas comunicações, ele continua em silêncio para nós.

Mas, por quê? A resposta está no espaço entre nós e o Sol. “O som precisa de um meio para se propagar”, explicou o astrônomo Chris Impey, da Universidade do Arizona, ao site Popular Science. No espaço, praticamente não há matéria – é um vácuo quase perfeito. Como o som é uma onda que se move através de partículas, ele simplesmente não tem por onde viajar até aqui.

O Sol está no auge da atividade e nem assim pode ser ouvido. Créditos: JHelioviewer/SDO/NASA

Ou seja, mesmo que o Sol produza algum tipo de vibração, não conseguimos ouvir nada por causa do ambiente em que ele está. E isso, segundo Impey, é bom, porque, se o som do Sol chegasse até nós, poderia ser ensurdecedor, considerando sua potência.

Shauna Edson, especialista em astronomia do Museu Nacional do Ar e Espaço dos EUA, explicou que o som é, basicamente, uma onda de pressão. Ele precisa de algo – como ar, água ou metal – para se deslocar. Ela compara isso com uma fileira de bolas infláveis de praia: ao empurrar uma, ela transmite o movimento para a próxima, e assim por diante, criando uma “onda”.

No espaço, porém, as moléculas estão tão distantes umas das outras que, se você empurrar uma, não há nenhuma próxima para continuar o movimento. Sem esse empurrão em cadeia, não há como formar uma onda sonora. Por isso, o som não viaja no espaço, e é daí que vem a famosa frase do filme Alien: “No espaço, ninguém pode ouvir você gritar”.

Isso significa que o Sol é completamente silencioso? Na prática, sim – ao menos para nossos ouvidos. No entanto, ele possui vibrações internas, conhecidas como oscilações solares. São como pequenos tremores que percorrem seu interior. Essas oscilações são parecidas com sons, mas em escalas que nossos ouvidos não conseguem captar.

Mesmo sendo imensas, essas vibrações são muito lentas e suaves, principalmente se comparadas ao tamanho colossal do Sol. Segundo Impey, essas atividades são muito fracas para serem percebidas diretamente por humanos, mesmo que estivéssemos mais perto.

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NASA faz “sonificação” da atividade solar

Então, como é possível encontrar pela internet “sons” do Sol? A resposta está em uma técnica chamada sonificação. Cientistas usam esse método para transformar dados astronômicos – como oscilações do Sol, ventos solares ou o movimento de buracos negros – em som. Mas, não é som real: é uma representação sonora criada a partir de informações invisíveis.

É como uma imagem de infravermelho captada por um telescópio espacial. O que vemos são cores “falsas”, já que o infravermelho não pode ser visto a olho nu. Com o som acontece algo parecido: os dados, que também não são audíveis naturalmente, são convertidos em áudio para facilitar a compreensão.

Essa conversão ajuda pesquisadores a analisarem grandes volumes de dados. Como nosso cérebro é bom em reconhecer padrões sonoros, ouvir essas sonificações pode revelar detalhes que passariam despercebidos em gráficos ou tabelas. Às vezes, é possível identificar mudanças de comportamento do Sol apenas com a escuta.

“Usar o som é uma forma de aprendizado”, explicou Edson. Assim como mecânicos ouvem motores e médicos usam estetoscópios para escutar o coração, astrônomos podem ouvir padrões em dados solares para identificar algo fora do comum. Em segundos de áudio, dá para representar anos de informações.

O máximo solar é o período de maior atividade do Sol (Crédito: NASA/SDO/AIA)
O máximo solar é o período de maior atividade do Sol. Crédito: NASA/SDO/AIA

Tecnologia e criatividade ajudam a “ouvir” o Sol

E o momento atual é especialmente interessante. O Sol está no chamado máximo solar, uma fase de seu ciclo de 11 anos em que fica mais ativo. Isso significa mais manchas solares, mais explosões e, às vezes, auroras visíveis em lugares onde elas normalmente não aparecem na Terra.

Quando os dados desse ciclo solar são sonificados, o resultado lembra um batimento cardíaco. Os picos e vales sonoros representam os altos e baixos da atividade solar. É uma maneira criativa e eficiente de entender um fenômeno que acontece a milhões de quilômetros, mas que tem efeitos diretos por aqui.

Então, embora o Sol não tenha som no espaço, conseguimos “escutar” seu comportamento com a ajuda da ciência. Não com os ouvidos, mas com tecnologia e criatividade. A sonificação nos permite traduzir o invisível e o inaudível em algo que possamos sentir – mesmo que seja só por curiosidade ou estudo.

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