O Tesoura de Villena foi descoberto na Espanha há mais de 60 anos e conta com mais de 65 objetos – a maioria deles de ouro. No entanto, duas joias específicas dentro desse acervo, considerado um dos mais importantes da Idade do Bronze na Europa, chamaram a atenção de pesquisadores por seu aspecto ferroso, que não se assemelha a ouro.
Um estudo publicado no ano passado, no periódico Trabajos de Prehistoria, revelou que as peças eram, na verdade, feitas de metais vindos de meteoritos. Mas uma questão ainda ficou aberta para debate: como essas joias se encaixam na Idade do Bronze na região? Afinal, a Idade do Ferro só começou depois.
Os pesquisadores têm algumas hipóteses.
Tesouro é um dos mais importantes da Idade do Bronze na região
O Tesouro de Villena foi descoberto em 1963, na atual cidade de Alicante. Desde então, ele é considerado um dos achados mais importantes de ourivesaria da Idade do Bronze na Península Ibérica e na Europa.
Entre os mais de 60 itens que fazem parte do acervo (sendo a maioria deles de ouro), dois chamaram atenção: uma pulseira opaca e um objeto oco enferrujado (que parece um gorro metálico) decorado com ouro. Isso porque ambos têm uma aparência ferrosa e corroída, que mais se assemelha a ferro do que ouro.
Só tem um problema. A Idade do Bronze se estendeu entre 3.300 e 1.200 a.C. Já a Idade do Ferro só veio depois, de 1.200 a 586 a.C. Ou seja, seria bem incomum que um objeto da Idade do Bronze fosse feito de ferro.
No entanto, a crosta terrestre não é a única fonte de ferro maleável. Outros artefatos anteriores, como a adaga do faraó Tutancâmon e armas da Idade do Bronze, eram feitas de outro material: ferro vindo de meteoritos.
A equipe resolveu analisar essa hipótese.
Objetos são feitos de metal vindo de meteoritos
A pesquisa, liderada por Salvador Rovira-Llorens, então chefe de conservação do Museu Arqueológico Nacional da Espanha (ele se aposentou), resolveu obter detalhes sobre a origem das peças, na tentativa de entender como elas se encaixam no tesouro da Idade do Bronze.
Isso foi possível porque o ferro vindo de meteoritos tem um teor de níquel muito maior do que o ferro vindo do solo terrestre. Veja como foi a análise:
- A equipe conseguiu permissão do Museu Arqueológico Municipal de Villena, onde as peças estão expostas, para estudá-las;
- Eles coletaram amostras dos dois objetos para testagem dos níveis de níquel;
- Para isso, o material foi submetido a uma espectrometria de massas, para detectar sua composição;
- Apesar do alto grau de corrosação das peças, foi possível concluir que tanto o objeto oco quanto a pulseira foram feios de ferro de meteoritos.
Peças ajudaram a entender o dilema do tesoura da Idade de Bronze
De acordo com o artigo, os resultados da análise sugerem que as peças são, atualmente, as duas primeiras de ferro meteorítico na Península Ibérica.
A equipe també conseguiu determinar a idade dos objetos: são de entre 1.400 e 1.200 a.C., que corresponde ao final da Idade de Bronze e o início da Idade do Ferro.
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Mas há ressalvas: a corrosão altera a composição dos materiais e os resultados não são 100% confiáveis. Técnicas mais recentes já têm desempenhos mais confiáveis nesses casos, o que poderia ser uma saída para confirmar as conclusões do estudo.
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